CURA PELO ALÉM

Revista Isto é

UMA EMPRESÁRIA CARIOCA TRATA PACIENTES FAZENDO COM

QUE ELES “VIAJEM” EM VIDAS PASSADAS

ELAINE LOBATO

Os limites do conhecimento humano quase sempre se deparam com o inexplicável. Pelo menos é isso que dizem os místicos. Para os mais céticos, essa barreira se conforma na própria evolução da ciência. De qualquer maneira, pouco importa a visão de espiritualistas ou materialistas quando a realidade impõe informações que confrontam a lógica. Seria possível a uma bem-sucedida empresária do setor de autopeças desenvolver um método de engenharia genética e física quântica a partir do conhecimento de vidas passadas e, com isso, enfrentar soluções para problemas que vão desde doenças comportamentais até moléstias infecto-contagiosas?

A ex-empresária carioca Carmen Viana, 45 anos, garante que sim. Não há uma explicação lógica, racional ou científica. Mas o fato é que Carmen afirma ter desenvolvido um método que mistura ocultismo e teosofia, batizado de “imersão total”, capaz de “levar seus pacientes a uma viagem através de vidas passadas e curá-los de todos os males físicos e mentais”. Pode parecer impossível, mas o eternamente cético e insuspeito colunista Zózimo Barrozo do Amaral enfrentou o “tratamento” com sua mulher, Dorita Moraes Barros. Ao final disse: “Não há explicação. Vi cenas de minhas vidas passadas. Parece absurdo para quem não vivenciou.”

Carmen não toca em seus pacientes, não trabalha com hipnose ou substâncias químicas. Usa apenas papel e caneta para fazer anotações durante o tempo em que conversa com cada um individualmente. Segundo ela, computadores ou máquinas podem produzir interferências eletromagnéticas no processo. As sessões, que custam R$ 1 mil por dia, acontecem em sua casa, no elegante bairro do Itanhangá, no Rio, onde seus clientes podem ficar hospedados por um período variável de três a cinco dias aproximadamente, e ela fica disponível para atender seus “hóspedes” a qualquer hora do dia ou da noite. As consultas são individuais. Através de palavras eles começam a ver cenas de existências anteriores. “Eu inverto a polaridade do campo magnético da pessoa e tudo vem à tona”, tenta explicar Carmen. Este parece ser o grande segredo de seu método. Ela mesma chama o processo de grande descoberta. São três etapas:

“Na primeira me dedico à ativação de todos os centros eletromagnéticos que controlam o corpo. Imediatamente vem à tona tudo o que é negativo nas vidas vividas por aquela pessoa e o próprio corpo se encarrega de reprogramar e resolver os problemas. Na segunda, inicia-se uma viagem ao espaço tendo como base encarnações passadas e, por fim, o paciente conhece o que eu chamo de banco de dados do universo.”

Mais que isso, Carmen não consegue explicar. “Mesmo se quisesse, não saberia descrevê-lo didaticamente. É como tentar explicar um orgasmo, um encontro com Deus. Não há como fazê-lo através de palavras, só vivenciando. Seja o que for, todos os pacientes saem da experiência em estado de êxtase.

“É inexplicável. Você fica inteiramente lúcido e pode, inclusive, interromper a sessão a qualquer momento para resolver um problema prático, como dar um telefonema ou coisa parecida. Não há clima místico, nada”, diz o colunista Zózimo Barrozo do Amaral. Embora tenha conhecido Carmen casualmente e feito o “tratamento” por mera curiosidade, ele sintetiza os resultados: “Fiquei mais calmo, mais fleumático. Passei a dar mais importância às coisas que possuem valor e menos àquelas que de fato não são importantes.” Sua mulher, Dorita Moraes de Barros, ficou ainda mais entusiasmada e, ao final, arriscou uma analogia entre o ser humano e um computador: “Ela busca a memória celular e reprograma os disquetes que estavam negativos. Depois disso, você resolve uma porção de coisas que estavam se repetindo em sua vida de maneira errada.”

Outro paciente famoso de Carmen, o diretor de teatro Fernando Bicudo, garante ter visto cenas que vão desde o seu nascimento até a idade de Cristo: “Eu vi. É uma coisa fantástica. Me fez bem física e espiritualmente. É como se eu tivesse, enfim, casado com meu espírito.”

O publicitário carioca Sidney Pereira, 52 anos, nunca acreditou em reencarnação, em espiritismo ou coisa parecida. Mesmo assim, depois de se submeter ao tratamento, disse: “Sofria de depressão e de uma angústia inexplicável. Depois que conheci algumas situações de minhas vidas passadas – por mais absurdo que pareça dizer isso -, consegui me livrar dessa agonia.” A pedagoga Virgínia Lúcia Pinto, de 42 anos, tão cética como Sidney, admite que teve que reformular suas crenças. Ela sofria de síndrome de pânico e tinha manifestações físicas como pressão alta, taquicardia, enjôos, entre outros sintomas. “Consegui parar de roer unhas, um benefício que oito anos de psicanálise não me deram”, diz.

Filha de um pai iniciado em teosofia, Carmen começou a estudar por conta própria, há 25 anos, teorias psicanalíticas e teosóficas. Estudou também informática, física quântica e engenharia genética.

Ela confessa que esse interesse se iniciou de forma espontânea, aparentemente diletante. Sem jamais ter cursado uma faculdade, ela fez cursos e participou de workshops em renomados institutos, como o Carl Jung. Apenas no ano passado, entretanto, ela parou de dividir a sua vida entre ser dona de uma empresa de autopeças e de “consultora mística”. Hoje ela se dedica apenas a atender seus pacientes, em sua casa em Nova York, em Paris ou no Rio. Ela calcula que já atendeu aproximadamente 1,5 mil pessoas e não sabe quanto tempo permanecerá no Brasil. Coerente com sua maneira de “processar a vida”, Carmen diz que está à disposição dos ventos: “Para onde eles soprarem, eu vou.”